São Paulo, 4 - O aumento das intervenções diárias do Banco Central no mercado à vista de câmbio não deve conseguir inverter a trajetória de queda da moeda norte-americana enquanto a curva de juros continuar projetando forte alta para a taxa Selic nos próximos meses. Essa é a avaliação de vários especialistas consultados pela Agência Estado, que veem uma relação intrínseca no comportamento dos dois segmentos. Nos últimos 12 meses, o dólar teve depreciação de quase 21%.
O Banco Central compra dólares no mercado à vista diariamente desde 8 de maio passado. No dia 15 de abril deste ano, fez dois leilões em um mesmo pregão - algo que não acontecia desde julho de 2007. Ontem, fez dois leilões pela terceira sessão consecutiva. Dessa forma, fica difícil imaginar que o mercado já não se antecipe às atuações rotineiras da autoridade monetária. Há quem acredite que, dessa forma, as medidas acabam sendo inócuas, mas há quem pondere também, que, como o País adota um sistema de câmbio flutuante, não há como fugir desse tipo de previsibilidade.
"Definitivamente está fácil para o mercado prever o que ele (BC) vai fazer e tentar se antecipar, para ganhar nessa arbitragem", acredita Jorge Knauer, gerente de tesouraria do Banco Prosper. Para ele, as intervenções "não deveriam ser tão previsíveis" porque hoje o mercado tem praticamente certeza do que o BC vai fazer. "Seria uma hora boa para ele mudar de ferramenta", opina.
O fato é que, previsíveis ou não, as atuações do BC não estão conseguindo segurar a queda da divisa americana ante o real, diante do cenário favorável ao País para atração de recursos, em um momento em que há poucas alternativas para se investir globalmente, e da taxa Selic atraente para as arbitragens de juros. "Na minha opinião, as intervenções do BC não vão ser suficientes para segurar a queda", acredita Carlos Allievi Júnior, gestor da Infinity Asset. Para ele, "não tem muita saída, vai ter de mudar a política".
De um lado, está a perspectiva de que os juros nos chamados "países centrais" continuarão baixos por um bom tempo e, no front interno, os dados preocupantes de inflação e na área fiscal, juntamente com indicadores robustos de demanda, levam o mercado a apostar que o Copom terá de pesar a mão sobre a Selic para recolocar a inflação no centro da meta de 4,5% no ano que vem. Essa combinação cria um terreno fértil para as operações de arbitragem, em que o investidor capta dinheiro barato no exterior para aplicar aqui e receber juros polpudos.
"Os juros no Brasil devem subir mais do que inicialmente projetado por dois motivos. Em primeiro lugar, a inflação de abril não está desacelerando como de praxe. O segundo fator é o reajuste de 75 pontos-base que o Copom patrocinou na Selic semana passada. Esta alta sugere que o BC vê com preocupação renovada a evolução dos preços domésticos e pode vir aí um aperto monetário maior que o inicialmente pensado. Tudo isto conspira para um real mais forte", afirmam os economistas da Gradual Investimentos, em relatório.
"O mercado de câmbio perdeu a correlação com o resto do mundo por causa dos juros", afirma o trader de renda fixa do banco Modal Luiz Eduardo Portella, para quem o BC tem a seu favor o déficit em conta corrente. "Por isso, se ele (o BC) tiver paciência, o ajuste se dará naturalmente", diz. Para ele, no entanto, a autoridade monetária, no curto prazo, teria na oferta de swap cambial reverso uma opção para diversificar seus instrumentos, tirando um pouco da previsibilidade de sua atuação.
http://www.blogger.com/post-create.g?blogID=6515160196382825188Já a avaliação de José Carlos Amado, operador de câmbio da Renascença Corretora, é de que "o mercado é soberano e vai para onde for mais atrativo. Em um sistema de câmbio flutuante é assim mesmo" , diz. Segundo ele, se o BC deixar de atuar de forma previsível e passar a usar outros instrumentos ou, por exemplo, a fazer leilão em um dia e em outro não, "vai criar muita volatilidade, o que seria ruim para o exportador e criaria desconforto para todo o mercado", pondera.
O destino das compras do BC são as reservas internacionais, que já se aproximam de US$ 250 bilhões - eram US$ 56 bilhões há quatro anos - , e o Banco Central já avisou que continuará enxugando excessos de liquidez. A questão é que a elevação das reservas implica a colocação de reais no mercado que, por sua vez, têm de ser absorvidos com a emissão de títulos públicos. Ou seja, sustentar as reservas em patamares elevados acaba pressionando a dívida pública. As reservas cambiais são geralmente montadas a partir do tamanho da exposição da dívida externa dos países. E, no Brasil, segundo dados do Tesouro, o estoque da dívida externa caiu de R$ 97,31 bilhões para R$ 94,74 bilhões em março.
"Aumentar as reservas não é o ideal e tem o seu preço, mas é o que ele pode fazer", afirma Miriam Tavares, diretora de câmbio da AGK Corretora. Segundo ela, "a lição de casa que deveria ter sido feita e não foi é na parte estrutural", como estímulos ao exportador, por exemplo, o que não depende do BC. "Em termos de política monetária, (a atuação) está equilibrada", opina. (Denise Abarca e Taís Fuoco)
Fonte: Broadcast
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